domingo, 27 de fevereiro de 2011

Veneno

Tenho tanta coisa tua pra dizer
Mas agora só me restaram vácuos.
Enquanto as palavras se perdem neste entremeio,
Te espero até mais tarde;
A gente põe aquela música pra tocar
Eu já fiz o teu jantar
Já me despi do teu inferno
Já te liguei pra te contar
Pra te convidar pro meu inverno
Pro meu eterno
Pro meu mundo que andava vazio,
Sombrio;
Pra minha casa que era escura.
Me tire
Me xingue
Me intimide.
Não quero o teu lamento
Quero o meu tormento
Que é somente amar você.
Me deixa escrever
Mais um pouco,
Deixa a luz do quarto acesa.
Eu quero te entreter.


Guilherme Quintanilha

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Terceira fase

Meu peito ainda soluça.
As lágrimas preenchem o espaço vazio do meu olho,
Enquanto vivo minha utopia física,
Inércia dinamizada,
Ação e reação.
Ando desajustado
O disjuntor teima em se manter na posição desligada,
E quando tento me aquecer,
Desarmo.
A fiação deve ser trocada o quanto antes.
Os eletricistas se negam,
Perdi minha luz um tempo atrás,
Apenas ameaço faíscas, fases interrompidas.
Torço para que meu fuso se ajuste com o término do horário de verão.
Já vem o carnaval,
Eu renuncio, não nego:
Quero de volta todo o meu mal.

Guilherme Quintanilha

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Desconstrução

Desmorona o morro
Chove a chuva
O tempo já fechou já faz um tempo
Enquanto invento
Pleonasmos desiguais.
Os ventos sopram em direção contrária
Os dias se tornam sem métrica, sem rima
É tudo tijolo, terra, areia
Meu coração
Desnorteia
Qualquer interferência externa.
O costume do querer
E o debulho do viver e das lágrimas
Não cansam
Meu coração
É pedra, tijolo, terra, areia
Incendeia
Quando a água tenta amenizar
A fumaça
A brasa
O mar
E tudo aquilo que envolte o teu amar
O meu amor
O calor
O furor
Desmorona o morro.
É tudo concreto, pedra, tijolo, terra, areia.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Extraviada II



     Eu quero tudo ao mesmo tempo, sou egocêntrico demais pra ser narrador-observador. Quero juntar os olhares, concentrar as salivas, manter-me sutil para não perder a discrição. Pode entrar, deixei a porta dos fundos aberta, pode pegar o vinho que pus de manhã na geladeira e já deve estar frio. Estou no banheiro, lavando a cueca na pia, você deve passar por mim e me cumprimentar, ou já vá pro quarto, tire a roupa e derrame vinho pelo teu peito. Ainda me lembro quando me pediu em casamento e me olhava nos olhos com teus gestos pequenos, e repetia sempre que eu te pedia, sem hesitar. Tua boca curvava meio trêmula, fazia uns desenhos sutis, meio estranhos. Você abusava do poder que tinha sobre mim, de poder manipular minhas ações pelos meus sentimentos. Isso é desleal. Você vinha e me fazia de vudú. E eu ainda te via em todos os lugares, e quando não via, era porque se escondia. Você sempre quis se mostrar involuntariamente, expelir seu drama natural. Sempre te via nas esquinas, percebia a luz do teu olho quando olhava pro alto. E olhava teu olho, beijava teu beijo, dizia que os poemas que escrevia não eram pra você - mas eram-, e sentia tudo que me passava sem necessariamente querer; como numa espécie de força motivacional: imoral, ilegal, integral.

Guilherme Quintanilha