quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

299.792.458 metros por segundo



   Procuro um feixe de luz que me consuma nesse hiato que nos separou. Dou dois passos tortos, minha cabeça dá voltas pelo meu corpo. Quero mais amor do que posso sentir!, declamo, sentado no chão. E antes que o tempo possa me mostrar o contrário, te resgato. Tenho os ombros livres, não sei até onde o amor é justificável ou justificado. Vou te deixar voar de volta pra mim, seguindo o vento. Você estava olhando pro outro lado, me disseram um tempo atrás; embora eu sempre estivesse aqui, pretendendo estar aqui. A esquina ficou lá, os bancos da praça ficaram lá, e não quero estar com eles de novo. Estou aqui com nossas coisas, reunindo nossos projetos que estavam pelo chão, recolhendo seus fios de cabelo pelo travesseiro. Minha convicção é clara e simples: dará certo se quisermos. Meu ego ainda por baixo de algum tapete pulsa por orgulho de mim. O frio é necessário. Não sei se o espelho é cônvaco ou convexo, mas consigo te ver inteira, acreditando no branco dos seus olhos, mesmo de costas, ouvindo tua voz aguçando os meus sentidos fracos. Espero que saiba onde está pisando, o vidro é fino, dá pra ver a água por baixo do gelo, não quero arriscar pensando que essa merda de aquecimento global é mentira. A vida já nos disse várias vezes: olha pra direita, olha pra esquerda, olha pra trás; e eu estou aqui, continuo aqui, ainda aqui, pra que você possa olhar sempre pra frente.

 Guilherme Quintanilha

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Raspas e restos

   Me seguro num fio de esperança que passa entre os meus olhos. Tento procurar dentro de mim alguma outra motivação, alguma outra esperança que não seja esta. Te amar é a única certeza que eu tenho na vida. Teus beijos são minha garantia de felicidade eterna. Teu corpo, minha garantia de prazer infinito. Fora isso me restam duas ou três palavras, sadismo e alguns dicionários.

Guilherme Quintanilha


Quem acredita sempre alcança.
Renato Russo

A paixão segundo o amor

   Aprendi hoje que nos acostumamos com a felicitade - fato verdadeiro. Chega um momento de tamanho êxtase em que tudo o que sentimos é vazio, embora a felicidade esteja ali, subentendida. Só damos valor quando perdemos e talvez já seja tarde demais. Mas eu continuo amando alucinadamente a mesma pessoa, o você de sempre. E não importa o que tenha acontecido, amor não acaba, apenas nos acostumamos demais com ele. Paixão é vício. É desesperador. Não que seja ruim de sentí-lo, mas não conseguimos viver aventuras pra sempre. Paixão nasce, paixão cresce, paixão morre. O amor está no pequenos atos, no sentir bem, nas aventuras arranjadas, na companhia, na cumplicidade, na rotina, na atenção. Só não me faça  sentir o que sobrou; fora isso, reconstruir faz parte da humanidade. Arrepender-se faz parte do ser humano. E se um dia eu acordar e sentir que não estou mais apaixonado por ela, não terá problema algum: eu terei a certeza que estarei ao lado de uma mulher magnífica - a mulher da minha vida.

Amor não dá ultima chance. Dá chance sempre. O capricho é cuidar do erro. Não há capricho sem usar borracha e reescrever de novo.                                                      Fabrício Carpinejar

domingo, 19 de dezembro de 2010

Try again



   Queria o meu brilho de volta, aquele mesmo, que ficava no teu olho, que era meu, assim como teu sorriso, teu coração, teu corpo. Queria tudo pra mim de novo, queria provar que ainda sou teu e que você ainda pode ser minha. Não joga tudo pela janela não. Me deixe te apresentar ao teu destino, vamos construir nossa vida juntos, nós podemos ser felizes, eu tenha certeza disso. O nosso amor é maior que tudo, ao nosso redor o mundo urge, não deixa tudo parar. Eu preciso da tua respiração, o mundo precisa do nosso carinho. Eu quero tua maturidade, eu não sei onde foi parar aquela mulher que eu conhecia e sabia driblar todos os conflitos. Cadê ela? O mundo tem sede que se crie. O universo conspira ao nosso favor. Tudo que passou é passado, do verbo já era. Vamos passar aquela velha borracha que nunca foi usada mas sempre esteve ali; vamos usá-la e encarar tudo que aconteceu como aprendizado, como primeiro grande conflito. O mundo tem sede de coragem, e olhar pra trás não é retroceder: é resgatar, selecionar, prosseguir. Sei que essa coragem esta aí, mas está acuada, confusa. Engula a seco tua amargura, não a empurre com um copo de água. Tudo foi grande demais pra ser esquecido, até você reconhece isso. Mas se não puder acontecer, tudo bem. Mesmo assim gostaria de agradecer: obrigado por fazer sentir o que sinto por você - é mágico, intenso, motivador. Try again.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Lamento utópico

Petrópolis, RJ - 12/06/2009
    Eu ainda não estou pronto pra ver a minha partida. Seu sentimento ainda está aqui dentro; sou sentimental, farei o que? Sua maneira de me poupar é inútil, preferia fugir para todos os lugares dos quais possa olhar e lembrar de você. Não entendo como pode ser tão fria, tão calculista. Esmiuço minha dor a fim de esgotá-la: lembro dos seus beijos perto dos carros, nossas loucuras pela rua, sua dificuldade em atravessá-la, nossas despedidas demoradas, sua paranóias, seus cuidados, as intermináveis conversas pelo telefone, as saudades inexplicáveis, sua cara de sono mesmo sem sentí-lo (por causa da anfepramona), seu cuidado com os cabelos, ajeitando-os fio por fio. Você tentou me regastar sozinha, eu não tinha noção do que estava fazendo. Sempre falei em preferir a solidão às más companhias, mas eu sempre estava ali, nunca lhe dei as costas - nunca mesmo. Nossa cumplicidade se esgotou com a sua falta de vontade em resgatá-la - ¨até onde posso ir pra te resgatar?¨. Estou fraco pra entender como tudo acaba do nada. Não quero entender. Durmo pensando em você, acordo pensando em você. Sua imagem vai e vem na minha cabeça durante todo o dia: seja para o bem ou seja para o mal. É difícil de esquecer, tem uma ferida enorme aqui dentro que abre mais a cada dia. Cada dia é interminável. Toda dor é inesgotável.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Lembranças

Pleonasmos são sempre necessários.

Auto-suicídio

Sempre cometo auto-suicídio.
Eu não tenho ego.

Até quando meu amor será posto a prova?
Até quando aguentarei tamanha humilhação?

Sou pó aos meus olhos.

E o pulmão já não funciona.
E o rim já não filtra nada.
E o meu coração já está parado.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Asco

   Tenho tido repugnância por você, me desculpe a sinceridade. Quando ouço o seu nome meu estômago embrulha. Talvez esteja pior que o meu asco aos camarões. Eu não sei se é ruim, mas me sinto melhor assim, estou sofrendo assim, e me sinto melhor assim mais uma vez. Tudo isso está sendo um aborto dolorido. Ontem tomei algumas muitas cervejas e já não sentia nada no peito: estava oco, frio, vazio. Não tinha noção do tão estragado estava. Não sinto nada, não sinto desejo, há dois dias que não sinto sua falta e meu asco aumenta. Meu estômago dói e talvez tenha desenvolvido uma gastrite nervosa.
    Tenho vergonha da sua vida e o que fiz pra te recuperar. Te procurei dentro de mim entre o intestino e o estômago pois você não estava mais no meu peito. Não tenho vontade de atender suas ligações, tenho vontade de vomitar. Eu procurava dentro de mim algo pra que pudesse me salvar e te salvar, enfiava minha mão pela boca e chegava a alcançar o estômago, mas já tava tudo digerido antes mesmo de eu começar a resgatar. O estágio da digestão já estava bem avançado. Tenho muito medo de onde tudo isso possa chegar.
    Não estou feliz e nem estou querendo ser. As pessoas se perdem na felicidade, controem mundos irreais, inimigos inexistentes e donzelas fúteis. As pessoas são complexas, não se resumem a um elogio. Preciso de atos concretos e a comprovação deles. As pessoas precisam de mim e você não. Você me atrasa e me dá nojo.
    Cada dia mais fico impressionado com a minha capacidade de atuar.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Extraviada

Paraty, Rio de Janeiro - 12/06/2010
         Lembro quando olhávamos prum só lugar, víamos a chuva cair, pensávamos em futuro eterno. Lembro quando te olhava e te via guardando o cabelo atrás da orelha num gesto com as mãos, após abaixar os olhos repulsivamente, demonstrando afeto oculto. Lembro ainda quando lembrávamos dos seus avós, dos meus pais, e imaginávamos cuidadando um do outro, com zelo. Tenho saudade dum só corpo, duma só vida, amor. Te via crescer pra longe de mim.  Fiz com que você crescesse pra longe de mim. Te criei pra isso, você não pode perceber nem entender. Isso é muito maior que nós dois, entenda por favor. Cuidava da sua roupa, da sua pele, do que você comia, alinhadamente, organizando os condimentos, os produtos, as cores - embora sempre fora alertado que era cuidado demais. Nós éramos muito um do outro, nossos nós eram frouxos, desamarravam sem necessidade de golpe, de meter o dente: era só afrouxar e puxar a corda; o nó estava desfeito. Com carinhos mútuos nossos corpos sempre conversavam. Sem gestos bruscos nós nos entendíamos, apenas por ver a curvatura da sombrancelha. Te amei mais que a mim e dificilmente encontrará alguém assim. E desejo que não encontre. Não mesmo. De coração. Nunca disse que estava errada, mas também nunca concordei com o que fazia. Me pergunto se tudo tem que começar e acabar assim: rápido, ágil, intenso. É melhor que sim. A partir de hoje e não quero nem ser feliz: só quero parar de sofrer. As lágrimas já estão secando, não chorei na quarta-feira. Tenho vontade de reconstruir nosso futuro, tirar o Lego do armário, construir de novo nosso castelo, reviver a nossa mágica. É duro aceitar a realidade. O chão é frio, o piso escorrega quando cai água, tenho medo de ter encosto. Precisamos voltar à rotina que aprendi a me apaixonar, te acordar mechendo nos teus cabelos, beijando suas costas. Tudo isso era muito nosso, minha vida, ninguém aqui vai nos entender; nem a capacidade que temos de não nos perdoar, ou de nos perdoar repentinamente. Não tenho mais vontade dos teus carinhos, pois são frios e não me parecem verdadeiros. Teu cheiro parece estar embebido de um outro perfume e misturado com outro que não é o meu. Não te conheço nem quando olhos nos seus olhos, mas consigo te perdoar diariamente. A dívida comigo já não é só tua, é minha também. Você não vai receber essa carta, porque eu não a escrevo pra você. Escrevo essa carta pra que eu possa lê-la todos os dias e me lembre do que restou de mim sem você. E pra você fica a certeza do não: eu não sei olhar sem você.

Segundo o desprezo


Me desprezo incontrolavelmente
Como o resto do prato,
Como comida podre,
Como um pão mofado,
Como um velho sujo,
Como vida perdida,
Como o suor do corpo,
Como um copo usado,
Como um filho bastardo.
Ferozmente.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Desprezo


Tento sangrar para mudar o foco da dor
E soco o chão 
(vejo seus olhos brilhando)
E taco a cabeça na parede 
(imagino seu sorriso intimidador)
E entorto o dedo para quebrá-lo 
(vejo seu rosto corado)
E me ataco,
Me ignoro,
E me esqueço pela enésima vez.

Grito porque não aguento mais sangrar.

Me desprezo como o resto do prato.

Você me prometeu o céu
E me deu o chão.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Falta


Tenho saudade de cuidar de você,
De entrelaçar meu corpo no teu,
Sentir teu cheiro, tua pele,
Envolver teus ombros com meus braços.

Sinto falta do afeto que nos unia,
Da cumplicidade não declarada,
Das palavras não construídas,
Das inexplicáveis construções semânticas,
E do sujeito separado por vírgula.

Lamento o inexplicável rompimento com a paixão,
Da troca da segurança pela aventura,
Da fidelidade por uma nova ideologia.

Dizem que a paixão acaba assim como o ar,
Depois de pentear o cabelo,
Depois de escovar os dentes,
Depois de dizer que me amava.

Prefiro não ver.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Teu

Lambo minha boca para fingir que a língua é tua.
Passo a mão no peito para ver se a pele combina.
E me abraço para sentir o teu calor,
Lembrar do teu cheiro,
Do teu hálito no meu ouvido,
Do teu dente na minha orelha,
Do teu gemido,
Das tuas declarações,
Da tua farsa,
Da tua ilusão,
Da tua irresponsabilidade,
Da tua inconsequência.

Eu era bipolar, sempre fui.
Mas nunca deixei de ser teu.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Autópsia

Sofro por antecipação.
Erro fatídico.
Sofro antes, durante, depois.

Sofrimento maior é saber que essa dor acabará um dia.

Quero mantê-la viva:
Todos os cortes abertos,
Todas as úlceras profundas,
Todas as necroses sujas;

E a eterna espera,
E a busca incessante,
E a concretizaçao tardia.

Até logo.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Forget me!


Te ouço toda vez que tento te esquecer,
E me reviro e me deito e me odeio,
E tento te ver nos meus sonhos,
Embora teus gestos de recusa,
Tua repulsão pelo desejo,
Tua tentação à carne.


O ser humano é fraco,
Frágil,
Apodrecido.


Preferia ver mil vezes a minha que a tua partida,
Tuas frases prontas,
Teus pensamentos dúbios,
Tua mente inviável,
Tua idéia rígida.


A necessidade que tenho é de sugar tua saliva,
E ainda sentir tua língua quente;
De olhar teu rosto sadio, teu sorriso largo, teus dentes curtos;
De te beijar a testa, fazer a cruz e pecar contra a castidade,
De debruçar sobre o teu corpo inclinado pra cima,
Tuas aréolas querendo serem escuras,
Teus olhos reluzentes,
Teu sinal intacto;
E de saber descrever cada milímetro do teu corpo aberto.


E de te esquecer toda vez que tento te ouvir,
Querendo ser o último a saber de tua existência.


De que me adianta tanto sofrimento se todas as anáforas foram vagas?

sábado, 4 de dezembro de 2010

Renúncia


Não sei sofrer.
Nunca disse que sabia.
Também nunca disse que não sofri.

Talvez, todo esse tempo, tenho sido mais ator que escritor:
Poetizava sentimentos alheios,
Concretizava pensamentos vagos,
Textualizava imagens vistas.

Não sei e não quero sofrer.

Aceitaria amá-la novamente somente para curar minha dor.

Não sou ator.
Não tenho ego.
Não sou escritor.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Todas as dores do mundo


Sempre estive por um triz,
Desde quando fui gerado:
Meu pai dezessete, minha mãe vinte e dois,
Minha mãe protestante, meu pai espírita,
Meu pai libriano, minha mãe capricorniana.

E já se foram vinte anos.

Estar por um triz para mim, é mais que um mero acaso:
Tive cento e vinte quilos,
Treze anos,
Nenhum amigo,
E uma bela depressão.

Não sou e nunca fui cú de ferro.
O que faço é reconstruir dizeres meus e de outros,
E aproveitar minha herança,
Embora Spencerismo seja preconceito.

O que sofro hoje é menos do que já sofri,
E que seja assim pra sempre.

(...) Sou rápido o suficiente pra me redigitar de novo. (...)
Já diz Carpinejar, meu amigo não declarado.