segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Entre Nietzsche e o perdão



      Tenho péssimo hábito de beber águas passadas, mas sem o objetivo claro de mover o moinho; talvez seja pela minha ótica ficcionista de juntar os cacos, reconstruir sentimentos, emiuçar dores. Minha consciência está tão pura quanto tranquila. Não tenho mais aquele pavor de perda, aquelas alucinógenas demolições do futuro - futuro que eu já não tenho há algum tempo. A rasteira foi dada em bom momento, os pés não podem desgarrar do chão - quem voa é anjo, minha realidade é outra. Gosto de ser humano, de perambular entre os pecados, de resistir ao irresistível; gosto este totalmente condicionado à minha paixão literária. Decidi hoje: não quero saber de análise, prefiro meus textos sofridos. "Filhos ou livros", já me dizia Nietzsche, enquanto procurava algum motivo pelo perdão. Perdão é divino, e alguém já deve ter falado isso. Só eu sei o que passei, o que vi, o que senti, e ainda ter a voracidade de renegar a tudo - só pode ser divino. Sinto que mudei, tenho o ouvido puro, os olhos já não são os mesmos: andam azuis, embora o tempo escuro os deixassem esverdeados. Não quero auréola em minha cabeça; quero ver aréolas em seus seios, pra que possa me lembrar da condição humana. Pensei em dormir pensando em minhas convicções que nunca eram corretas, prestando atenção mais uma vez em Nietzche, "convicções são cárceres"; mas prefiro sentir esse turbilhão de sentimentos que esmurram o meu peito: "é preciso ter caos cá dentro pra gerar uma estrela". Meu filho se chamará Friedrich.

Guilherme Quintanilha

9 comentários:

Tânia Monteiro. disse...

Que palavras tão certas.
Adorei.
Obrigada :)

Evandro Oliveira disse...

Guilherme, obrigado pela visita.
Na verdade já me pagam, sou acessor de imprensa da editora record, esse texto que escrevi está no site da editora.
Sou jornalista.
Seu texto também é excelente.

Vou seguir teu blog e voltarei aqui mais vezes.

Abraços

http://sabordaletra.blogspot.com/

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

"prefiro sentir esse turbilhão de sentimentos que esmurram o meu peito".

Sendo a felicidade utópica (como vc concorda) ou não (como eu defendo), entramos em consenso no que diz respeito a essência desse seu trecho que destaquei. Sentir-se ser humano, mesmo com as dores e confusões que isso traz consigo, é o mais importante!! Gostei do ponto de vista, do texto e do blog como um todo. Seguirei com prazer.

Beijos,

Marília

Junior Rios disse...

Olá Guilherme!Teu texto realmente me fascinou, sem explicação!Escreves de uma forma única, diferente...Me identifiquei demais com tuas palavras, também vivo em meio a turbilhões que nunca sossegam.Obrigado por fazer parte do Sin Parangón, te espero por lá mais vezes, ok?Te sigo, claro, também por aqui...

Abraços

Anônimo disse...

águas passadas não movem moinhos, estou te seeguindo.

Unknown disse...

esse é o meu garoto! vai no meu blog tambem hehe futilidades, mas com qualidade! e eu sempre digo, promova o desapego! bjs amigo

; disse...

Seguindo aqui também.
Me identifiquei muito com o texto. Parabéns. Abraço

Fernanda Ribeiro disse...

Olá, tem um selo esperando por ti em meu blog. Venha buscá-lo.