segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Justa causa


     Eu nunca dei motivos pra que você olhasse para o lado. Sempre estive presente, nunca te abriguei nas minhas horas vagas. Eu tinha compromisso com você, meu ponto era auditado regularmente, não tinha domingo, não tinha feriado, eu nunca tirei férias. Fazia questão do árduo comprometimento diário, mas exigia salário no final do mês – e talvez um dos meus maiores erros tenha sido este: cobrava cada hora extra, cada sábado fora da escala. Esperei reciprocidade quando não podia esperar. “As pessoa são diferentes, cara”, falava Deus comigo. Esperava reconhecimento, um adicional noturno, uma bonificação. Recebi um aviso prévio: não precisaremos mais dos seus serviços em trinta dias. Titumbiei, pensava que era emprego público; mas resolvi nada mais do que ser eu mesmo. Se não se apaixonar de novo por alguém que já se apaixonou um dia, pego minhas coisas, coloco minha carteira embaixo do braço e peço demissão. 

Guilherme Quintanilha

9 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

você sempre intenso aqui! e eu adoro esse seu universo de sensibilidade.

te sigo no twitter, mas pena que não me segue...abraço

Junior Rios disse...

Guilherme, seus textos são de uma sensibilidade extrema, confesso, que não me canso de passear pelo teu espaço, pois sempre há algo que me identifique e me prenda a atenção!

Abraços

Thiago Cavalcante disse...

Guilherme

curti muito seu texto: criatividade X realidade.

Parabéns, rapaz.

Verônica Hiller. disse...

WOW.

me senti revivendo o passado, todo o dedicar sem nem uma migalha de resposta. sei o que é isto e senti tuas palavras como sendo minhas, de tão vividas e doídas que soaram por aqui. adorei, de verdade. estou seguindo, sempre.

Judy disse...

Muito bacana,Guilherme!Parabéns.

; disse...

De um subjetivismo tamanho, no entanto, você se supera. Faz com que sua particularidade se estenda ao próximo: qualquer um se vê ali.
Sem cometer injustiças, dos que li, sem dúvidas, foi o melhor. Gostei muito. Abraço

Anônimo disse...

Gosto dos textos que nos fazem visualizar o acontecido, de forma a fazer doer em nós, como pessoas que se encontram ali, bem na plateia. O seu texto trouxe isso à tona em mim. Obrigada.
Parabéns!

Tati disse...

Guilherme,
Muito bom...Você tem o dom das palavras meu querido. Realmente, a pior coisa que existe é 'esperar' que as pessoas sejam, sintam e façam o mesmo que nós, é uma dor tamanha, porque de fato, nunca serão. Todos somos diferentes né? E de repente a expectativa que o outro seja como a gente nos frustra, faz parecer que o amor é tão inferior..Mas na verdade é só a forma de amar diferente.
Ahhh, que bom você curtir Gadú também, ela é ótima!
Um beijo querido.

Jân Bispo disse...

Bravissimo, meu caro, adorei o tom despretencioso de falar de uma forma tão cotidiana das relações.
A verdade maior é que definitivamente não temos o direito de exigir e nem de esperar nada, quando as expectativas são nossas os unicos culpados somos nós.
Partir para outra é sempr bom, e que bom seria se todos tivessem essa capacidade de pedir demissão e partir para outra! abraços e como sempre é sempre um prazer passar por aqui e ler seus escritos