domingo, 30 de janeiro de 2011

Longe, bem de longe



      Eu também não sou daqui, oscilo sempre entre as probabilidades, entre os vir-a-ser, entre os ganhos materiais e a necessidade de me igualar aos demais. Sinto falta de te sentir inteira; de onde eu venho, todas as pessoas são inteiras: cegos, deficientes, laranjas não são cortadas ao meio. Lá vivem como se todos os dias fossem os primeiros e os últimos. E o recomeço é diário, a reconquista é árdua, a valorição é indispensável. Lá eles dizem que se amam freneticamente, assiduamente; sem demostrar intensidade, talvez até afeto, somente pra que o amor não caia em desuso. Lá o amor e o costume são sinônimos, racionais. O amor não acontece, o amor é criado. Você ama quando quer e desama quando tem necessidade. Separações são praticamente inexistentes. Os casais são felizes, são apaixonados pela rotina que levam; e se ousasse perguntar a qualquer um deles se trocariam de vida, negariam. Desde que vim de lá, me tornei mais frio, consigo descrever o sentimento que existe de onde parti. Enquanto estava lá, tudo era mágico; racional somente quando visto de fora. Me entristeço com esse lugar aqui, do qual fazem questão de separar a paixão do amor e do sexo, mecanicamente. As pessoas são infelizes pois buscam tais prazeres separadamente, e quando querem encontrá-los juntos, não conseguem. E essa busca incessante é desmascarada por um simples motivo: não existem separados. Lá de onde vim eles entendem tudo isso perfeitamente, mesmo sem consentir. De onde vim tudo é pra sempre. E eu deito e fecho os olhos e forço e choro mas não consigo voltar.

Guilherme Quintanilha

2 comentários:

Thamires Figueiredo disse...

' queria muito fazer parte desse mundo em qe você cita tão perfeitamente, alias, acho qe essa é minha busca insensate. Como sempre você está de parabéns. Um beijo :*

Anônimo disse...

Somos daqueles que estamos sempre tão longe de tudo..
mas sempre nos encontramos no momento certo !